sexta-feira, 17 de abril de 2015

Autor de trilhas sonoras, brasileiro conquista EUA e compõe para "Amy"

"Amy", o documentário do britânico Asif Kapadia sobre Amy Winehouse,estreia fora da competição em Cannescercado de expectativas. Trancado em um estúdio, um brasileiro não apenas já assistiu ao longa, como é o responsável por contar, através da música, a saga da cantora morta precocemente aos 27 anos.
"É a história de uma menina normal, talentosa, cheia de amigos. Queria ser cantora de jazz, mas vira a Madonna", resume ao UOL o músico e compositorAntonio Pinto, que assina a trilha do documentário. Assim como fez em seu filme anterior, "Senna", sobre o piloto brasileiro, Kapadia não usará entrevistas em "Amy", apenas imagens raras de arquivo. Antonio entra para dar ao filme as emoções de uma ficção. "A vida dela vira um inferno e eu sou isso no filme. Eu estou ali para dar esse tom para a história".
Filho do cartunista Ziraldo e irmão da diretora e cenógrafa Daniela Thomas, Antonio Pinto é um dos grandes nomes quando o assunto é trilha sonora no Brasil, e agora também em Hollywood. O carioca de 47 anos não tem o rosto conhecido, mas seus acordes já ressoaram em muitos filmes, como "O Senhor das Armas" (estrelado por Nicolas Cage), "A Hospedeira" (baseado em livro da autora de "Crepúsculo"), "Amor nos Tempos do Cólera" (baseado no livro de García Márquez), "O Acordo", "Senna"e da produção Brasil/Reino Unido "Trash - A Esperança Vem do Lixo" (ouça abaixo)

As portas foram abertas nos Estados Unidos pelo incrível trabalho de Antonio em filmes brasileiros como "Cidade de Deus", "Abril Despedaçado" e, principalmente, na delicada e marcante trilha sonora de "Central do Brasil". A sequência no piano que acompanhava a professora Dora (Fernanda Montenegro) e o menino Josué (Vinicius de Oliveira) foi inspirada no trabalho de Philip Glass. Foi em um espetáculo do compositor americano, dono das trilhas de "Kundun" e "As Horas", que Antonio, aos 17 anos, teve o que chamou de revelação. "Aquele show definiu toda a minha vida".
O estilo minimalista e de estrutura cíclica, que tem o poder de causar um espiral de sensações – seja lá quais forem --, está impresso no trabalho de Antonio. Antes de se tornar compositor de trilhas, chegou a trabalhar na MTV e fazia a tira 'Pequena Menininha' para o jornal "Folha de S.Paulo". Acabou causando mais reclamações do que elogios. "Foi a tirinha mais odiada da 'Folha' porque a menininha maltratava a irmãzinha", relembra.
Multi-instrumentista, Antonio passou então a gravar demasiadamente, sem foco nem motivo. Sua entrada no cinema, ele faz questão de ressaltar, foi graças ao nepotismo. Começou com alguns temas em "Terra Estrangeira", que Daniela Thomaz co-dirigiu com Walter Salles em 1996. Encantado com o trabalho, Salles o convidou para compor a trilha de "O Primeiro Dia" e "Central do Brasil" – seu primeiro grande cartão de visitas.

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